domingo, 14 de maio de 2017

Domingo de Maio


Eu deixo minha alma escrever, e quando as palavras brotam eu nem mesmo sei o que eram antes. Algumas vezes, pássaros voam em direção ao céu, outras apenas a chuva cai, é tão simples que fica complexo explicar. É como escutar The Mills Brothers em um domingo de maio.

Um dia me perguntaram, sobre o que gosto de escrever. Pensei e logo disse, escrever sobre como gosto de escrever seria a resposta mais sincera de todas.

O corpo ao digitar, rabiscar ou declamar é nada mais que um instrumento da alma. Na alegria ou na melancolia o que mais vemos é a melancolia de palavras antes soltas que se misturaram. Poetizar é o como sambar, lindo e cheio presente, e total ausência de passado e futuro.

Prosear em versos é subjugar nossa triste ignorância. Todo homem é poeta em um momento da vida, mesmo que vulgar, mesmo sem falar, mesmo sem admitir.

Hoje sou um confesso leitor de comentários, às vezes por curiosidade e as outras também. Porém curiosidades diferentes, mas em meio a tantos por quês, me confronto com tantas pessoas dotadas de certezas que me deixam no mínimo com medo, medo da ausência de dúvidas, afinal o que seria mundo sem dúvidas.

Com tantos doutores das certezas, como alguém poderia ousar em duvidar, duvidar hoje seria digno a sentença de morte. Já até vejo o futuro:

 - Lembra daquele rapaz?

 - Qual?

 - Aquele que tinha dúvidas?

- Do que?

- De tudo.

- Ah sim, uma pena ele era louco.

Iniciei a escrita com chuva e pássaros, agora estou aqui pensando em comentários e ausência de dúvidas. Essa é a maravilha de ser direcionado pela alma, não há limites para onde seus pensamentos o levam. Para finalizar um pensamento brega para a atual conjuntura:

“O rapaz levantou-se em meio a reunião de vendas, e se demitiu, em seguida saiu. Alguns disseram, sempre achei que ele tinha ideias neoliberais, outros disseram, ele deve ser comunista, e outros ainda pensaram, aquele cara é um radical”.

Quem estava certo? Não sei. Talvez todos, talvez ninguém.