segunda-feira, 5 de abril de 2010

Ciúmes

- Me diga! Exclamou o namorado ciumento.

Com cara de poucos amigos, e ainda por cima com uma voz áspera de trovoada, queria saber onde a inocente companheira, focava seus olhares; era um controlador de olhos; escravo de uma palavra chamada ciúme, escravo não, dependente na verdade. Caras assim existem de monte no mercado, mas não vêm com rótulo e prazo de validade.

- O que você está olhando? Continuo, o rapaz.

- Eu, nada.

- Estava encarando aquele babaca de camisa vermelha. Gostou dele vai ficar com ele sua ...

- Que isso, sabe que eu te amo. Você tá ficando paranóico de novo?

- Então vai procurar um cara normal.

A mulher irritada com o ciúme do namorado, sem mais virou as costas, e partiu sem nada dizer; ela parecia estar horrorizada com aquela desconfiança; a agressividade com as palavras poderia ser apenas um ensaio para o abuso da força física.

- Espere, não de as costas pra mim, você é minha.

Todos na festa perceberam o destempero do casal; ela saindo em disparo, ele atrás gritando palavras de bar. Um vexame, comentavam os presentes.

Lá fora ele a alcançou e foi logo dizendo:

- Volte comigo por bem ou por mal.

Era uma ordem, como se ela fosse a propriedade dele, o rapaz estava agora agressivo ao extremo, totalmente desequilibrado. Começou a dizer que ela havia fugido da festa, devido ao amante que lá se encontrava. Mas que amante? Ela nunca vira o rapaz de vermelho antes.

- Eu não volto pra nenhum lugar com você agindo assim. Vou para o ponto de taxi, e não tente me impedir, ou gritarei por socorro, seu demente.

Então a jovem ferida pelo ciúmes do namorado, foi ao ponto, tomou o taxi e partiu pra casa. Sua tristeza era profunda, como poderá ele pensar isso dela, imaginou. As promessas da noite passada, sobre confiança e liberdade eram apenas promessas falsas, aquelas que se faz em mesas de bêbados e após o sexo.

- Vou parar aqui moço, tome o dinheiro, pode ficar com o troco.

- Obrigado senhora, tenha uma boa noite.

Ainda atordoada ela foi cabisbaixa em direção ao portão, quando escutou uma voz:

- Ei, pensou que iria deixar você escapar assim.

- O que está fazendo aqui? Você me seguiu? Está louco?

- Louco eu?

Os olhos dele estavam vermelhos, pareciam revelar uma sede maligna e vingativa. O ciúme tinha feito do rapaz um cão cego e perigoso, seu descontrole era tão claro, tão irreal pra ela, era o ponto máximo da loucura daquele homem.

A cada esquina, casa, escola, trabalho, e até mesmo em nosso interior identificamos o sentimento do ciúmes; a destruição de lares e amores, matéria eternamente utilizado por poetas e escritores; muitos até dizem que o ciúme é essencial para um relacionamento, mas será que isso não seria uma falta de confiança? Perguntas como essa estimula cientistas, filosofos e religiosos a focarem estudos no tema ciúmes.

- Olha eu amo você, por isso farei isso, temos que estar sempre juntos, você será minha por toda eternidade.

- O que é isso? Você está arma...do! Socorro! Não.....

O rapaz atirou na jovem, e logo após matá-la, suicidou enfiando uma bala na cabeça.

A palavra muitas vezes agressiva ou até mesmo atrativa, têm vários significados, a semântica causa mudanças no seu sentido, porém a palavra ciúme parece ter sempre o tom negativo, seja onde e quando for. Mas o foco não é a palavra, mas o sentimento destrutivo que o ciúme pode se tornar.

Duas mortes por causa de uma cara com a camisa vermelha, parece patético, mas na verdade não foi por causa do cara, mas sim devido ao ciúme patológico. Um mundo com amor, não pode ser um mundo doente, um mundo de inveja e ciúmes, um mundo com amor, precisa ser um mundo de confiança, respeito e coragem para enfrentar as fraquezas humanas em relação aos desejos e sentimentos, se não pode controlar o ciúme, tente compreende-lo, para poder sufoca-lo, antes que ele sufoque você.